Nos últimos doze anos tenho trabalhado em investigação e prática artística na intersecção da arte e ciência. Mas qual é a diferença entre a prática e a investigação em arte? Acredito que para resolver estas questões e outras questões relacionadas com a pratica das artes, o seu desenvolvimento e o seu papel no meio académico e do conhecimento em geral é útil considerar a realidade de outras actividades criativas que implicam muita investigação em simultâneo com actividade prática para o seu desenvolvimento.
Creio que a ciência, e em particular aquele ramo que conheço melhor – a biologia, pode ser considerada um bom exemplo de onde os artistas podem assimilar ideias e aprender. Estou assim convicta que a ciência – como investigação, prática e aplicação – nos oferece um exemplo muito valioso de integração para a investigação em arte e sua educação dentro do sistema académico das universidades em toda a Europa, como complemento à existente teoria e história da arte.
Vou falar da minha experiência pessoal como artista e como investigadora que trabalha maioritariamente em ambientes de investigação em biologia.
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Marta de Menezes_Nasceu em Lisboa em 1975. Licenciou-se em Belas Artes pela Universidade de Lisboa e é Mestre em História da Arte e Cultura Visual pela Universidade de Oxford. É candidata a Doutoramento pela Universidade de Leiden. Como artista e investigadora, tem vindo a explorar a intersecção entre arte e biologia, trabalhando junto de laboratórios de forma a demonstrar que as recentes biotecnologias podem ser usadas pela arte. Em 1999 de Menezes criou a sua primeira obra de arte biológica (Nature?) através da modificação de padrões de asas de borboletas vivas. Desde aí, tem vindo a usar diversas técnicas incluindo a MRI funcional do cérebro para criar retratos (Functional Portraits, 2002); sondas fluorescentes de ADN para criar micro-esculturas em núcleos de células humanas (nucleArt, 2002); esculturas feitas a partir de proteínas (Proteic Portrait, 2003-2007), ADN (innercloud, 2003; The Family, 2004) ou incorporando neurónios vivos (Tree of Knowledge, 2005) ou bactérias (Decon, 2007). O seu trabalho foi exposto internacionalmente em exibições, artigos e palestras. Presentemente, é a directora artística de Ectopia, um laboratório de arte experimental sediado no interior de um instituto de investigação – o Instituto Gulbenkian de Ciência – em Lisboa.
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