Toda a pretensão de uma posterioridade à tragédia – que, dada a identificação entre trágico e mundo antigo, é também uma pretensão de modernidade – parece resumir-se, tantas vezes, a um resignar-se a alguma combinação de trágico e cômico, na impossibilidade de extinguir de vez o trágico. Ou seja, ergue-se o cômico contra o fundo de tragédia, assim como se ergue o moderno contra o fundo do antigo, sempre à espera de uma genuína alegria futura. Mesmo a felicidade ostensiva oferecida, a bom preço (e a caro custo), pela indústria cultural jamais foge a esta estrutura binária em que a comédia é sempre a máscara dissimuladora da tragédia, seu reverso e mesmo seu disfarce. É de dentro desta estrutura e com a esperança de sair de seu círculo vicioso que alguns poetas contemporâneos nos falam, mas não podem dizer, senão alusivamente – sibilinamente – deste outro momento, deste amanhã que lhes permanece, até agora, vedado.
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Que a alegria como tarefa (isto é, como algo a ser conquistado arduamente, dia a dia, por mãos e mentes humanas, e não um dom gratuito, e por isso sempre um pouco desprezível e adiável, de algum deus ou da natureza) tenha permanecido no horizonte da poesia brasileira contemporânea é um fato que não pode ser menosprezado em qualquer futura história (a rigor, até agora, não existe nenhuma) de nossa poesia moderna. Afinal, esta persistência é, de fato, uma das principais evidências de uma continuidade do moderno ao longo do século XX e ainda hoje nestes primeiros anos do XXI, pondo em questão as avaliações muito apressadas de uma definitiva superação da modernidade, e não só na poesia, que teria coincidido, no plano da história mundial, com a derrocada do bloco soviético e a suposta vitória global do capitalismo. Continuar a ler