Monthly Archives: Abril 2011

Immemory ou a arte da memória

Chris Marker

Chris Marker, nascido Christian François Bouche-Villeneuve no dia 29 de Julho de 1921 em Neuilly-sur-Seine, França, realizador de cinema, fotógrafo, viajante, artista multimédia, etnógrafo, escritor.Colocado a par de François Truffaut, Akira Kurosawa, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Chris Marker diferencia-se pela construção de uma aura de mistério em redor da sua pessoa, fruto da dificuldade em encontrar os seus filmes no mercado, da indisponibilidade para entrevistas e dos raros retratos fotográficos existentes. Afincadamente evita qualquer tipo de publicidade e ao pedido de imagens da sua pessoa envia frequentemente um desenho de um gato (Guillaume-en-Egypte).

La jetée

La jetée (1962), porventura o seu trabalho mais conhecido, denuncia, desde logo, a sua aproximação, dir-se-ia obsessiva, à memória. Ela é motivo e causa de um trabalho que parece muito pouco preocupado em cingir-se formalmente a géneros. A sua transversalidade e reflexividade permanentes – em que fragmentos procuram aceder a um hólos, pese embora a consciência dessa impossibilidade – tornam-se particularmente nítidos em Immemory. Continuar a ler

Apresentação

Gilles Deleuze

«Tem-se a impressão de que o ideal da ciência já não é axiomático ou estrutural. Uma axiomática era a obtenção de uma estrutura que tornava homogéneos ou homólogos os elementos variáveis aos quais se aplicava. Era uma operação de recodificação, um restabelecimento de ordem nas ciências. Porque a ciência nunca deixou de delirar, de fazer passar fluxos de conhecimentos e de objectos totalmente desqualificados segundo linhas de fuga que iam sempre mais longe. Há pois toda uma política que exige que essas linhas sejam colmatadas e que uma ordem seja estabelecida. (…) É que a ciência devém cada vez mais ciência e acontecimentos, em vez de permanecer estrutural. Traça linhas e percursos, faz saltos, em vez de construir axiomáticas. O desaparecimento dos esquemas de arborescência em benefício de movimentos rizomáticos é disso um sinal. (…) Já não é uma estrutura que enquadra domínios isomórficos, é um acontecimento que atravessa domínios irredutíveis». – Gilles Deleuze & Claire Parnet (2004), Diálogos, Lisboa, Relógio D’ Água, p. 86.

Gilles Deleuze, o filósofo da complexidade, da ensamblagem e/ou agenciamento serve de mote para a apresentação por Luís Quintais do grupo de discussão Milplanaltos, um colectivo que apela para a procura de ligações entre as várias disciplinas, interesses e áreas que potenciam o conhecimento. Conhecimento esse que se pretende em rede, tal como no modelo (e mais especificamente através do conceito de rizoma) desenvolvido por Deleuze, um conhecimento que se “espalhe” de forma horizontal, abandonando desde já uma ultrapassada perspectiva daquele como estrutura hierarquizada, vertical, enunciando vícios de poderes estabelecidos. Continuar a ler

Experimentar

Milplanaltos é um espaço de constituição de linhas de fuga entre disciplinas.

Teremos por desígnio cartografar as regiões de contacto, as contaminações, as passagens que se fazem inscrever entre áreas disciplinares diversas, assumindo-se que a interioridade de tais circunscrições disciplinares com as suas axiomática e estruturação não nos permitem experimentar.

Experimentar é assim ir ao encontro das linhas de fuga que fazem do pensar um acto criativo. Os conceitos não são, neste sentido, meras imagens do mundo; isto é, imagens que vão ao encontro de um mundo sem mediação – esta é uma das acepções de «verdade» que importa descartar. Os conceitos são filosóficos, de acordo com a estratégia deleuziana que aqui se reclama, porque criam possibilidades de pensamento que estão para lá daquilo que é conhecido ou assumido. Pensar é, neste sentido, uma actividade que faz multiplicar os possíveis, que nos faz constituir novas linhas de fuga.

Assume-se que a nossa estratégia é a de realizar conexões entre domínios eles próprios dinâmicos e conectivos. E esta estratégia irá implicar a realização de ligações entre arte, literatura, filosofia e ciência.

Pretende-se, neste sentido, reunir contribuições múltiplas. Estas contribuições serão colocadas em diálogo. Este diálogo será potenciado por encontros mensais que obedecerão a um cronograma.

Neste blog dar-se-á notícia deste esforço e serão reunidas as contribuições dos diversos investigadores. Poderão ainda ser pensadas outras modalidades de intervenção e diálogo.

Luís Quintais

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